População e mudança social

Em alguns países a vida da maioria dos habitantes parecia pouco alterada em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, em relação ao que tinha sido em 1910. Este era o caso do Paraguai, ainda predominantemente rural e isolado, e de Honduras, exceto por seu enclave costeiro de banana. Mesmo no Brasil, o sertão, ou semi-árido, mal foi afetado pelas mudanças nas cidades costeiras ou no complexo industrial de São Paulo, em rápido crescimento. Mas na América Latina como um todo, mais pessoas estavam se tornando ligadas à economia nacional e mundial, introduzidas à educação pública rudimentar e expostas aos meios de comunicação de massa emergentes.

Even na Argentina, Brasil e Cuba, onde o número de imigrantes tinha sido significativo até a depressão – no caso de Cuba, das Índias Ocidentais vizinhas e, acima de tudo, da Espanha – o crescimento da população foi principalmente do aumento natural. Ainda não era explosiva, pois, embora as taxas de natalidade na maioria dos países continuassem altas, as taxas de mortalidade ainda não tinham sido drasticamente reduzidas pelos avanços na saúde pública. Mas foi estável, a população total da América Latina aumentou de cerca de 60 milhões em 1900 para 155 milhões em meados do século. A proporção urbana tinha atingido cerca de 40%, embora com grandes diferenças entre os países. A população argentina era aproximadamente metade urbana às vésperas da Primeira Guerra Mundial, sendo necessárias menos mãos para produzir a riqueza do país no campo do que para processá-la nas cidades e fornecer outros serviços urbanos essenciais. Nos países andinos e na América Central, porém, os habitantes urbanos eram uma minoria decidida, mesmo no final da Segunda Guerra Mundial. Além disso, o padrão habitual era o de uma única cidade primata que ofuscava vastamente os centros urbanos menores. No Uruguai, no início dos anos 40, só Montevidéu tinha 800.000 habitantes, ou mais de um terço do total da nação, enquanto seu rival mais próximo continha cerca de 50.000. No entanto, mesmo assim, eram tantos quantos viviam em Tegucigalpa, a capital de Honduras.

A população da América Latina é menos fácil de classificar em termos de composição social. Os trabalhadores rurais ainda constituíam o maior grupo isolado, mas os chamados vagamente de “camponeses” podiam ser qualquer coisa, desde minifundistas, ou proprietários independentes de pequenas parcelas privadas, até mãos contratadas sazonalmente de grandes plantações; com diferentes graus de autonomia e diferentes ligações aos mercados nacionais e mundiais, estavam longe de ser um setor social coeso. O que esses trabalhadores rurais mais claramente tinham em comum era um acesso extremamente inadequado aos serviços de saúde e educação e um baixo nível de vida material. Um abismo sócio-econômico e cultural os separava dos grandes proprietários de terras tradicionais, bem como dos proprietários ou gestores de agronegócios comerciais.

Nas cidades uma classe trabalhadora industrial estava cada vez mais em evidência, pelo menos nos países maiores, onde o tamanho do mercado interno viabilizava a industrialização mesmo com baixo poder aquisitivo médio. No entanto, os trabalhadores fabris não formavam necessariamente o setor urbano mais importante, em certa medida porque o crescimento das cidades tinha sido mais rápido do que o da indústria manufatureira. São Paulo no Brasil e Monterrey no México ganharam fama principalmente como centros industriais, mas mais típico foi o caso de Montevidéu, um centro comercial e administrativo antes de tudo que atraiu a maior parte da indústria do país por causa de sua liderança preexistente em população e serviços, e não o contrário. Além disso, os trabalhadores portuários, de transporte e de serviços – ou mineiros, como nos campos de nitrato chilenos – geralmente lideravam a organização sindical e as ações de greve. Uma das razões foi a alta proporção de mulheres trabalhadoras nas primeiras fábricas, que, embora ainda mais exploradas do que os trabalhadores masculinos, eram percebidas pelos ativistas radicais como recrutas menos promissores do que os estivadores ou bombeiros de locomotivas.

Em ambientes urbanos, o desenvolvimento social mais importante a curto prazo foi a expansão constante de grupos médios de colarinho branco e profissionais. A medida em que estes podem ser chamados de “classe média” é questionável, pois, enquanto “média” pelos indicadores econômicos de propriedade e renda, eles eram frequentemente ambivalentes sobre o seu lugar na sociedade – não se sabe se devem abraçar a ética de trabalho e poupança convencionalmente associada à classe média do mundo ocidental (ou, mais tarde, da Ásia Oriental) ou tentar emular as elites tradicionais. Os setores médios foram, em qualquer caso, os principais beneficiários da expansão das instalações educativas, que apoiaram fortemente e utilizaram como meio de mobilidade ascendente. Os trabalhadores urbanos, por sua vez, tinham acesso ao ensino primário, mas raramente ao secundário; pelo menos agora eram principalmente alfabetizados, enquanto a maioria dos latino-americanos rurais ainda não era.

A falta de educação formal tinha há muito reforçado o relativo isolamento do campesinato das correntes políticas nos centros das suas nações, para não falar dos novos modismos e noções do estrangeiro. No entanto, a partir dos anos 20, a rápida disseminação do novo meio de rádio por toda a América Latina expôs até mesmo pessoas analfabetas a uma cultura de massa emergente. As adições à infra-estrutura de transporte também contribuíram para uma maior integração de aglomerados populacionais isolados. As linhas ferroviárias mais essenciais já tinham tomado forma em 1910, mas a chegada do transporte automotivo levou a uma grande modernização e extensão das rodovias, e o avião introduziu um modo de transporte inteiramente novo. Uma das companhias aéreas mais antigas do mundo é a colombiana Avianca, cuja fundação (com um nome diferente) em 1919 foi de particular importância para um país onde a construção de ferrovias e rodovias havia ficado para trás devido à difícil topografia. As viagens aéreas também desempenharam um papel fundamental na malha de trechos distantes do Brasil, anteriormente ligados por um navio a vapor costeiro. Melhorias de transporte de todos os tipos favoreceram a criação não apenas de mercados nacionais, mas de culturas nacionais compartilhadas, neste último aspecto reforçando os efeitos da educação popular e da rádio.

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