A maior parte das plantas estão essencialmente enraizadas numa mancha e imóveis. Embora os factores de crescimento necessários – por exemplo, luz solar, minerais e água – estejam frequentemente presentes no ambiente, nem sempre estão suficientemente próximos da planta para serem utilizados na sua totalidade. A natureza superou este problema dando às plantas a capacidade notável de algumas das suas partes – por exemplo, raízes e rebentos – de crescerem em resposta a esses factores abióticos. Desta maneira, os rebentos tendem a crescer em direcção à luz, promovendo assim a fotossíntese (o fenómeno do fototropismo), e as raízes tendem a crescer para baixo, o que ajuda a ancorar a planta no solo (a resposta comportamental conhecida como geotropismo (ou, em alternativa, gravitropismo)). Dos muitos factores no solo explorado pelas raízes, a água é provavelmente o mais importante. De facto, a água é tão importante que não deve surpreender saber que as raízes têm uma resposta hidrotrópica em que as raízes crescem em direcção às fontes de água, um comportamento distinto do geotropismo.*
Apesar de tanto o geo- como o hidrotropismo serem semelhantes em sua dependência das diferenças de crescimento entre os dois ‘lados’ da raiz – aquela mais próxima da gravidade/ fonte de água cresce mais lentamente em relação àquela mais distante – elas também têm diferenças. Uma grande diferença é que o geotropismo envolve a auxina hormonal da planta, enquanto o hidrotropismo utiliza ABA (ácido abscísico).
Tendo em conta a importância de as plantas obterem água adequada para crescerem adequadamente – e a relevância disso para a segurança alimentar do mundo futuro, onde a escassez de água é susceptível de limitar o crescimento das culturas – Daniela Dietrich et al. dissecaram ainda mais a resposta hidrotrópica da raiz. O seu trabalho enfatiza ainda mais a sua distinção do geotropismo. Em particular, eles demonstram que o hidrotropismo ainda ocorre em raízes cujo meristema e tampa radicular foram destruídos pelo tratamento a laser, mas é inibido se o aumento diferencial do comprimento celular no tecido córtex for evitado.
O seu elegante estudo leva à conclusão de que a zona de alongamento das raízes desempenha uma dupla função no hidrotropismo, tanto na detecção de um gradiente de potencial hídrico, como posteriormente no crescimento diferencial. Isto contrasta com o geotropismo (onde o estímulo-percepção e a resposta de crescimento são espacialmente separados). Resta agora a grande questão – qual parte da raiz é responsável pela percepção do som da água, como revelado por Monica Gagliano et al. no seu estudo da resposta bio-acústica das raízes?
[Ed. – Para que o nosso público mais geo-fixo não sinta que os seus próprios interesses rizobehaviorais estão a ser diluídos por toda esta conversa de hidrotropismo, temos o prazer de alertar os leitores para o artigo de acesso aberto de Oliver Pouliquen et al. intitulado “Um novo cenário para a detecção da gravidade em plantas: a hipótese do sensor de posição”, no qual propõem que o sensor de gravidade de uma planta detecta uma inclinação e não uma força… Este é um dos muitos artigos do número especial dessa revista sobre a biofísica do desenvolvimento de plantas.
* Tendo sido há muito reconhecida uma resposta geotrópica das raízes, a identificação de uma resposta hidrotrópica adicional ia ser difícil de estabelecer. Mas, sua elucidação foi auxiliada em grande parte pela descoberta de uma planta que não respondia à gravidade. O uso deste mutante de ervilha (Pisum sativum) ageotropicum permitiu assim separar uma resposta de gravidade de uma resposta não-gravidade, como o hidrotropismo (e.g. isto). Como é tão frequentemente encontrado, para aqueles com o estado de espírito certo para reconhecê-lo, a Natureza dá uma pista para ajudar os humanos a explorar e entender seus múltiplos e sábios modos biológicos maravilhosos.